por Paulo Magalhães

Ora, não nos falta aquilo que Kant chamaria de philosophischekopf. Nossas “kopfs” (cabeças) são tão boas quanto as dos compatriotas do bom e velho Immanuel. Aliás, se Kant tivesse vindo alguma vez ao Brasil, ficaria impressionado com o bom desempenho das “kopfs” brasileiras, filosóficas ou não. Funcionam muito bem, apesar do sol dos trópicos...
Imaginemos o ilustre filho de Kögnisberg numa temporada de férias brasileiras, nos anos 60/70. Certamente diria sobre Pelé, após assistir a mais um passeio do Santos: “Aquele gol de cabeça contra o Corinthians foi razão pura!”. E louvaria nossos pés filosóficos, aos quais associaria o imperativo categórico da habilidade, ao mesmo tempo transcendental e pragmática.
Mas Kant não ficaria só no circuito samba-futebol; está provado que isso é coisa de turista mané. Como bom filósofo, tomaria algumas caipirinhas metafísicas com a nossa intelectualidade, para conhecê-la melhor. Do Oiapoque à Chauí, se me permitem a cretinice.
Desenhemos mentalmente a cena: bar lotado, ao lado do campus da USP, sexta-feira à noite. Numa mesa quilométrica, formada pela união das esquerdas, com Kant à cabeceira para acentuar a incoerência, concentra-se a nata do pensamento brasileiro. Lá pelas tantas, meio tonto, mas ainda cheio de razão prática, o velho professor se levanta. Com ar solene, copo na mão, sentencia:
- Descobri qual a problema de vocês, brasileiras!
Por alguns segundos, faz-se um silêncio insuportável, logo quebrado por Fernando Henrique Cardoso – que não fora convidado:
- Vai, Kant, deixa de nhenhenhém, desembucha logo!
E o velho mestre, sem se virar para FHC, dispara:
- O que vocês não têm é philosophischebeinarbeit! – e volta a se sentar, mais quieto que antes.
Os intelectuais brasileiros se entreolham espantados. Qual o significado daquele palavrão? Todos concordam que seria indelicadeza pedir maiores explicações sobre o termo. E sinal de pouca cultura também. Assim, a alegre reunião vai se dissolvendo aos poucos.
Alguém aí sabe o que é PHILOSOPHISCHEBEINARBEIT?
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Paulo Magalhães é carioca,
formado em filosofia pela Universidade de Taubaté
e funcionário do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
formado em filosofia pela Universidade de Taubaté
e funcionário do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
... tem que ter PHILOSOPHISCHEBEINARBEIT ... porque filosofia é para os fracos :) maravilha de texto, Paulo!
ResponderExcluirMuito bom, Paulo! rsrs. Traga mais textos ótimos assim para nós.
ResponderExcluirBeijos, meu irmão!
Chris
Pelo que pude deduzir, é filosofar no trabalho. Errado ou não, o artigo do Paulo Magalhães é maravilhoso! Palmas, amigo.
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