por Leninha Barros
Nossos calendários nos avisam com antecedência da importância de certas datas. Algumas nacionais, outras comemoradas mundialmente; sejam locais ou regionais, todas, no entanto, simbolizam um acontecimento que, teoricamente, deveria ser lembrado.
As datas especiais deveriam
incitar antes uma reflexão que uma comemoração. Mas o que tenho
observado é que com o tempo vai-se perdendo o sentido do porquê de uma
festa, do pra que de uma comemoração desvirtuada de seu real significado
e, passamos a repetir fórmulas prontas de cumprimentos, aproveitamo-nos
do feriado da data para "apreguicionar" pachorrentamente o dia…
Certas datas impõem uma ditadura consumista, outras apelam para uma
comemoração em volta de mesas de bar ou de uma família que só se reúne
uma vez por ano. Há um apelo praticamente de tudo: flores, corações,
abraços. Flores, corações e abraços, que deveriam ser de si doados todos
os dias, passam a ter dia marcado…
Param-se as guerras no Dia
Internacional da Paz e recomeçam-nas, celeremente, na próxima
meia-noite; empanturramo-nos de chocolate nas Páscoas e começamos o
regime nas segundas que as sucedem; é preciso um dia para se lembrar da
"Pátria Amada"; suspira-se de amor no Dia dos Namorados e a rotina
impera no dia-a-dia dos casais; cumprimentam-se as mulheres no Dia
Internacional da Mulher …
Decretado pela ONU, em 1977, como o Dia
Internacional dos Direitos das Mulheres e pela Paz, o dia 8 de março,
para além de cumprimentos às mulheres, deveria evocar, em sua
importância simbólica, um sentimento de defesa e de luta pelos direitos
fundamentais reconhecidos. A revolta das 129 tecelãs ocorrida a 8 de
março de 1857 em Nova York terminou em tragédia. Ao serem cercadas e
mortas incendiadas dentro da fábrica em que trabalhavam tornaram-se
símbolo de uma luta de equiparação de direitos que continua a ser
travada até os dias atuais…
Avanços, por certo houve; mas, as
estatísticas ainda revelam uma humilhante discriminação das mulheres
sob várias formas , presentes desde o seio familiar até o ambiente de
trabalho externo. No Brasil temos uma lei para coibir a violência contra
a mulher (Lei n. 11.340) , particularmente no âmbito doméstico : a Lei
Maria da Penha. O nome desta lei é uma homenagem à biofarmacêutica Maria
da Penha Maia, vítima de inúmeras agressões pelo marido Marco Antônio
Herredia. Este, após duas tentativas de assassiná-la, deixou-a
paraplégica. Marco Antônio só foi preso após 19 anos de julgamento,
tendo passado apenas 2 anos em regime fechado…Parece-me ainda ser
necessária a diferenciação como degrau para a isonomia; são ainda
imprescindíveis as leis para que se internalize uma norma maior, ética
de respeito e valorização do outro enquanto semelhante…
Vários
atributos como ternura, desprendimento, amor incondicional, beleza,
entre outros, são associados à figura feminina. Mas, prefiro falar
destes atributos e ligá-los aos homens e não a um gênero. Prefiro falar
de homens e mulheres ternos, desprendidos, que sabem amar
incondicionalmente, que são belos de corpo e de mente. Prefiro falar de
fraternidade, igualdade, de respeito e admiração recíprocos, de
complementariedade…
Penso que na data de hoje deveriam todos –
homens e mulheres – refletirem sobre os avanços em suas relações um para
com o outro. Deveriam as mulheres se engajarem na luta por isonomia
salarial, mas se perguntarem se estão felizes no trabalho. Deveriam os
homens se perguntarem se têm demonstrado respeito para com suas
companheiras que optaram pelo trabalho doméstico. Deveriam as mulheres
se perguntarem se na luta por direitos iguais elas abririam mão de
privilégios. Deveriam os homens se perguntarem se ao tratá-las como
"iguais" não repetem seus padrões de disputa e competitividade que têm
entre si. Deveriam as mulheres se perguntarem em quais situações
abusam de sua fragilidade em proveito próprio. Deveriam os homens
enxergarem a força que se esconde na fragilidade de suas mulheres.
Deveriam as mulheres perguntarem aos homens e os homens às mulheres o
porquê de se distanciarem, o porquê de não caminharem juntos… Deveriam
ouvir as respostas…
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Leninha Barros é natural de Uberlândia, Minas Gerais,
graduada em Medicina Veterinária e Psicologia
pela Universidade Federal de Uberlândia
graduada em Medicina Veterinária e Psicologia
pela Universidade Federal de Uberlândia
e colaboradora do Boca a Penas
Parabéns, Leninha Barros, pelo excelente texto, de uma transparência que nos remetem mesmo à profundas reflexões. O diálogo aberto, franco e com respeito mútuos, creio ser a chave para os avanços no sentido de a mulher conquistar mais espaços na sociedade. Parabéns! Um feliz dia da mulher pra ti!.
ResponderExcluirMuito obrigada, Helena da Rosa.
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