Pediu-me
a revista literária “Boca a Penas” que resenhasse o livro de Júlio Damásio:
“Num piscar de olhos e outros olhares”. Aí vai.
O
livro é tão imensamente bom e discreto de palavras que me obrigo a não
ocasionar derramamentos inúteis:
"Júlio
me mande dez exemplares, que compro para meus netos e filhos; depois peço mais
para professores e amigos.
Parabéns!
FIM"
Diante
da reclamação, gritos e sussurros da Boca a Penas, reescrevo:
Caro
Poeta, Júlio, que não conheço nem de olhar em fotografia, mas que me deu susto
tamanho quando li os minicontos e outras histórias, que ainda estou a recuperar
o fôlego.
Sensibilidade
a esbanjar e memória de letrista de grandes sambas, como Paulo Vanzolini.
Conhecedor
de quintais e jardins; matas e periferias; corações e mentes, a cada página
renova nossa alegria, nosso sentimento, nossa angústia, nos fazendo pensar,
até, com amor, em nossa parentaia, sem descurar da velha morte.
Se
existe um representante nestes Brasis da tal corrente de prosa poética ou de
poema em prosa, ele é o Júlio, o Damásio.
E,
assim, pra não desgostar ninguém e, muito menos, os literatos de plantão, mando
uma dupla citação à guisa de encerramento:
Fernando
Paixão, na sua “arte da pequena reflexão” (Iluminuras, 2014, p. 55 e s.)
menciona Suzanne Bernard que: “... ‘chama a atenção para o fato de Baudelaire
ter-se aproximado da prosa com o intuito de traduzir em palavras a vida
atribulada que emergia em Paris e lhe inspirava o spleen’. Tal
sentimento, associado a uma melancolia lírica mesclada à lucidez, pedia a
expressão diferenciada em consonância com o mal-estar do poeta...” – ela aponta
“o fato de os recursos da prosa servirem com mais fidelidade ao anseio do poeta
em dar eco aos ‘rumores da vida interior’. Seja um quarto duplo, seja um velho
saltimbanco, seja o contraste entre multidão e solidão, as situações são
tratadas com o propósito de desencadear o confronto gerador de aspectos simbólicos
e sociais”.
Pronto
e desculpe-me Júlio mais este derrame, prenúncio de AVC ou sincera declaração
de respeito e amizade.
caetano lagrasta, de sampa pro mundo em 17 de junho de 2015.
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Caetano Lagrasta é Consultor Jurídico e Jornalista. Autor de livros de contos, poemas e poemas infantis. Articulista do Projeto Tempestade Urbana, Colaborador do Boca a Penas e mantém o site www.caetanolagrasta.com
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