Mineira
de Belo Horizonte, Cristina Arruda é artista plástica e poeta, formada em ciências biológicas e
odontologia pela UFMG. Artista plástica autodidata há mais de 15 anos, vive em
Belo Horizonte onde realizou as exposições individuais "Universo
Feminino" e "Rebento". Ambas no Centro Cultural Lagoa do Nado, além
de exposições coletivas. Ilustrou diversos livros de poesia, como a antologia "Sobre Lagartas e Borboletas", organizada por Adriana Aneli, Adriane Garcia, Chris Herrmann e Maria Balé (ed. TUBAP/Scenarium, 2015) ; "Amor Expresso" de Adriana Aneli (ed. Scenarium, 2015) e outros. Entre os projetos futuros, está trabalhando na ilustração do livro de poemas "Gota à Gota" de Chris Herrmann (ed. Scenarium) que será lançado em 2016.
Fanpage no facebook:
www.facebook.com/cristinaarruda
Rebento
As vezes
paro
Penso
nos meus traços
Absorvo
Mastigo
Rio
E choro
Acatando
a dor e o riso
Que me
provocam
Não
tenho a vida inteira
Para os
devaneios
Da minha
linha
Mas
marcarei em ti
Algo que
salta de mim
Como um tinir penetrante
BAP1: O
que começou primeiro em sua vida: a poesia ou as artes plásticas? Conte também
para nós quando e como você começou a levar a arte ainda mais a sério.
Cristina
Arruda: As artes plásticas, quando comecei a ver arte em tudo ao meu redor. Meu
pensar passava sempre pela criação, cores, formas e movimento. Na escola onde
dava aulas de ciências comecei a trabalhar com artes, estabelecendo entre os
dois conteúdos um diálogo super possível.
Sempre
desenhando muito até chegar nas ilustrações, que são mais recentes.
BAP2:
Conte um pouco sobre seus 15 anos na área plástica. Você diz que é autodidata. Quem
foi sua inspiração no começo? Todo artista possui uma referência. Qual foi a
sua?
CA:
Primeiro, meu pai que era alfaiate. Desenhava as roupas e eu, menina, sentava
perto e observava ele desenhando, riscando com mil réguas e cortando e
costurando os tecidos. Também tocava violão. Minha mãe bordava.
Depois o
conhecimento dos pintores através dos livros que contavam sobre a obra e vida. Entre
eles, Tarsila do Amaral, Picasso, Modigliani, Rodin, Camile Claudel, Portinari,
Oscar Niemeyer, entre tantos. Livros estes que chegavam até a mim por uma
biblioteca que vinha num caminhão até a região onde morava.
Penso
que a arte nos torna melhores em todos os aspectos,nela exercitamos a liberdade
e o amor.
A
liberdade, quando nos permitimos criar sem medo dos riscos, e o amor que nos
inspira, nos faz acreditar no trabalho artístico e nos ajuda a compreender
nossa vivência artística.
BAP3: A
partir do que pode nascer a sua arte? Nos fale também sobre o seu processo de
criação artística. Uma obra nasce pronta ou precisa de um labor intenso depois
da centelha (inspiração) inicial?
CA: O
processo se inicia na vontade de dizer algo, se expressar, ter voz no mundo. Tem
base sólida nas lembranças da infância e se completa com as observações do
cotidiano. Então junta-se ao desejo um papel, uma caneta e nasce a ideia que se
desenvolve à medida que se torna uma imagem que observo. E aí já há um diálogo
neste fazer artistico entre mim e a obra. Soma-se a isso tudo as técnicas que
apóiam a criação.
BAP4:
Como você tem visto o panorama artístico em Minas e no Brasil? A internet
ajudou na multiplicação/visualização destes artistas e de suas inúmeras obras?
CA: Sim.
Facilitou muito na visualização de artistas, como eu, que nao estou no eixo
mais contemplado pela mídia.
Acho que
ainda precisamos de democratizar os espaços culturais existentes, no sentido de
novos artistas poderem colocar suas vozes através de suas obras e também criar
novos espaços para exposições.
BAP5:
Para quem está começando a mexer com arte agora, há pouco tempo, quais dicas
você daria? Existem conselhos a dar ou cada qual que ache seus próprios
caminhos?
CA: O
caminho é de cada um. Mas minha sugestão é que se expressem sem se preocupar
com a crítica e exercitem o fazer artístico. O amadurecimento vem naturalmente.
BAP6:
Fale um pouco sobre como concilia vida pessoal e vida artística. Você tem uma
rotina específica para criar? Dizem que os artistas devem ser bem
disciplinados...ou você vai para as suas telas quando chega a inspiração?
CA:
Considero os momentos de produção artística abençoados e gosto da solidão
necessária nesses momentos. Mas me pego desenhando em guardanapo de
restaurante, parando o carro pra anotar uma idéia, pois a inspiração está nas
lembranças e no cotidiano e pode vir a qualquer momento. Disciplina é
importante em qualquer atividade e também na arte.
BAP7:
Existe alguma regra para se colocar um preço em uma obra? Como você encara esse
momento da venda? Dá uma dorzinha no coração se desfazer de suas obras?
CA: Dá
um pouco sim. Cada trabalho tem características próprias, mas entendo que é
necessário que o trabalho seja visto por várias pessoas. Ele tem vida própria e
deve cumprir o papel de emocionar as pessoas e levá-las à uma reflexão, além de
despertar os sentidos e o gosto estético.
Quanto a
valores, acho um momento difícil mas necessário, posto que o trabalho artístico
deve ser valorizado financeiramente, sem dúvida.
BAP8:
Quais são seus projetos para o futuro?
CA:
Continuar desenhando, pintando, ilustrando livros. Curtindo meus filhos,
livros, música e amigos. Aprimorar meu canto e minhas composições. Levar a vida
sem dureza, prefiro a suavidade.
___
Entrevista
realizada pela equipe do BAP.
Chris Herrmann, Denise Moraes, Lourdes Rivera e Marcelo Mourão