
Leonel Prata, paulista, de Lins, vive em
São Paulo, capital. Publicitário, jornalista, editor e escritor. Já escreveu
vários livros com conteúdos corporativos para as empresas que atende no setor
de Comunicação. Organizou, editou e é um dos autores das antologias de contos Damas de Ouro & Valetes Espada –
Crônicas do Baralho e Damas de Espadas
e Valetes de Ouro – Memórias Embaralhadas. Edita e atua como ghost writer em livros para autores
independentes. Como editor já ganhou o Prêmio Aberje de Comunicação Empresarial
com publicações para a Mercedes-Benz do Brasil, Suzano Papel e Celulose e
Instituto Butantan. Como roteirista faturou o prêmio de Melhor Roteiro de
Curta-Metragem, da Academia de Filmes, com o filme A Vingança da Noiva, e Menção Honrosa no concurso Novos Roteiristas
de Novela, da TV Record, com Os Invasores. Escreve periodicamente
crônicas para o portal Algo a Dizer (www.algoadizer.com.br), do Rio de Janeiro.
Parte de sua realização profissional pode ser vista em www.leonelprata.com.br .

Trecho
do conto ‘Sophia Loren’, de Leonel Prata na antologia acima.
"No meu raciocínio de menino
apaixonado, achei que o caminho mais rápido para a Angélica cair nos meus
braços era me tornar presidente da classe. Cheguei a sonhar com a presidência
do 4º A. Era o jeito mais natural de me aproximar da Angélica. Bastava nomeá-la
Assessora para Pesquisas de Ciências, por exemplo, fazer reuniões de trabalho
na casa dela, e pronto! Duvido que ela pudesse resistir
ao charme da Sophia Loren. Sim, uma vez, ela me disse que eu lembrava
uma artista famosa, muito charmosa, de quem ela não conseguia recordar o nome.
Eu me fiz de desinformado. Foi a primeira e única vez na vida que não fiquei
incomodado em ser comparado com a Sophia Loren. Chegou o momento de eu me
aproveitar dessa semelhança com a
italiana peituda, que eu tanto idolatrava e odiava ao mesmo tempo."
BAP1: O que quer dizer comunicação num país que se aproxima a passos largos do segregacionismo?
Leonel Prata: O conjunto da mídia empresarial reforça a segregação. Até
fazem um ou outro programa ou publicidade, digamos, politicamente
correto, para ganhar um prêmio aqui ou ali. Coisas tipo Ação Global. Só
que não trabalham por uma sociedade mais igualitária, justamente porque
esta tiraria seus privilégios.
BAP2: As empresas jornalísticas,
de televisão, editoras e distribuidoras etc estão voltadas para a
Educação e Informação do povo?
LP: As jornalísticas não. Não
educam nem informam direito, seguem seus próprios interesses, passam
informação comprometida, por conveniências comerciais (anunciantes e
patrocinadores) e políticas (a mídia empresarial vive na esteira dos
rumos que a política toma), principalmente. Quer dizer que o que chega
ao público é uma versão deteriorada dos fatos. A população, que pouco lê
e enxerga, desinformada, embarca nessa onda. Isso sempre foi assim.
A imprensa, de um modo geral, ao meu ver, é a grande fofoqueira da história.
A programação televisiva é muito fraca, deseduca, incita à violência. A
principal emissora voltada para a educação – TV Cultura –, que tem
alguma qualidade, dá traço de audiência.
As editoras de livros no
Brasil, para sobreviver, seguem as tendências do mercado, do que está na
moda, em detrimento à literatura de verdade. Os livros mais vendidos
nos dias de hoje, por exemplo, são baboseiras de jovens youtubers (cada
vez assustadoramente mais), de padres, autoajuda, livros para colorir
(isso é o fim do mundo!) e best-sellers água-com-açúcar e de aventuras
de autores internacionais. As editoras que se comprometem com a boa
literatura e qualidade de suas obras, poucas sobrevivem (vide Cosac
& Naify), infelizmente.
As distribuidoras cumprem com o seu papel de distribuir o que as empresas produzem.
BAP3: Qual a solução para o direito de expressão e informação na atual situação do país?
LP: A solução é a mesma de sempre: Educação – social, moral e cívica.
BAP4: Você ainda acredita na comunicação?
LP: Acredito, lógico. Tento fazer a minha parte, editando livros e
revistas de boa qualidade, com bons profissionais – escritores,
jornalistas, ilustradores, designers, etc.
BAP5: Fale sobre o
processo de composição das duplas artísticas (escritor-ilustrador) no
coletivo Damas de Ouro & Valetes Espada – Crônicas do Baralho e
Damas de Espadas e Valetes de Ouro – Memórias Embaralhadas.
LP: A
ideia inicial surgiu em fazer um livro com escritores que colaboravam
com o portal Primeiro Programa, da rádio Transamérica FM, do qual eu
fazia parte. Reuni quatro escritoras e quatro escritores (os quatro
naipes do baralho), damas e valetes, para fazer o Crônicas do Baralho.
Para dar um visual mais legal para o livro – minha permanente
preocupação com o que eu faço –, resolvemos chamar quatro ilustradores e
quatro ilustradoras. Os homens ilustrariam os textos das mulheres e
vice-versa, agrupados por meio de sorteios. Isso foi em 2009. Repetimos o
jogo do baralho agora em 2016, com o Memórias Embaralhadas, desta vez
com mais damas e valetes – 28, entre escritores e ilustradores -, também
na base do sorteio.
BAP6. O que você busca como escritor?
LP: Eu busco me comunicar com o leitor de um jeito bem próximo, sem
firulas de linguagem e maiores complicações literárias. Aprendi (e
descobri) isso – de me expressar de uma maneira simples e leve –
escrevendo (e editando) livros e revistas para empresas durante muitos
anos, antes de partir para a literatura. Quanto mais eu escrevia nesse
estilo descomplicado e acessível para as publicações dos meus clientes,
mais me chamavam para trabalhar. Não sei fazer de outro jeito. Também
busco como escritor: escrever boas histórias, de preferência
bem-humoradas, com começo, meio e fim.
BAP7. Como roteirista de novela, você retrata o realismo ou a fantasia?
LP: Relato o realismo com muita fantasia. Impossível escrever sem
‘viajar’. Vale ressaltar que comecei minha vida de roteirista fazendo
fotonovela, que requer muita técnica, porque o texto não pode nunca
redundar com a foto, e os diálogos são fundamentais. Foi uma bela
escola.
BAP8. O que empolga e o que incomoda Leonel Prata no meio literário?
LP: Empolgo-me com a boa literatura, os bons escritores, os livros bem
editados, que são muitos, mas pouca gente consome. Incomodo-me com as
editoras que, em detrimento aos autores brasileiros talentosos (há
tantos), apelam para outros meios (já citados acima) para ganhar
dinheiro – até entendo isso, apesar de discordar, porque é um jeito de
as editoras sobreviverem neste país que ninguém lê.
Recente pesquisa
divulgada pelo Instituto Pró-Livro, Retratos da Leitura no Brasil,
revela que a média de livros lidos por habitante no país é de duas obras
completas por ano, além de outras duas lidas parcialmente, incluindo aí
os livros obrigatórios requisitados em sala de aula. Metade da
população brasileira (100 milhões de pessoas!) não tem o hábito da
leitura.
___
Entrevista
realizada pela equipe do BAP.
Chris Herrmann, Adriana Aneli e Caetano Lagrasta