“Morte na USP”
O ambiente jurídico produz monstros; suas ideias lhes dão vida.
O livro de Ada Grinover, editado pela Manole, margeia e
disfarça situações e desencantos, alçando personagens, plenamente reconhecíveis
e referidas a amigos e colaboradores mais diletos, enquanto elimina outros com
requintes que se permitem à carreira ao impulso de burocracia medíocre e
castradora – desculpem a redundância, ainda que dita com mínima elegância.
A criação de um matador em série mostra-se adequada à vida
acadêmica, assim como seria de gargalhar se este sonho fosse transportado para
o judiciário.
A sucessão onírica poderia impulsionar novas criações ou, ao
menos, tentar se opor aos arremedos de Justiça, patrocinados pelas novas e
velhas curuls, na morosidade de distribuir Justiça e ao acatar os sucessivos golpes
que nossa infantil democracia sofre.
Deixemos, porém, o pesadelo e seus monstros e nos
concentremos na obra.
O clima de inveja, de pequenos reveses ao amor-próprio, do
puxa-saquismo e do seu antônimo, o puxa-tapete, cobrem de gloria alguns e de excremento
outros, como se adivinha na dura lida profissional. Raros aqueles que conseguem
a sobrevivência digna e o desfrutar do merecido ócio com dignidade, como diziam
os latinos. Ada, a todos faz justiça.
Morrem-se no livro até nominados amigos, para não permitir se
descubra o verdadeiro desígnio do criminoso, mancomunado à sua criadora.
Percorrem-se lições esquecidas à Medicina Legal; descreve-se
um detetive, por exceção, dedicado e inteligente e que, sedutor, aproxima-se às
jovens e balzaquianas que as páginas atravessam, distribuindo algum charme, por
vezes decadente, a devorar decotes sem pudores, e que, às custas ao beneplácito
autoral, a algumas ilusões distribui, enquanto para outras, compungida, acompanha
nos dissabores ou morte.
Novos rumos da investigação criminal e conversas com
psiquiatra engalanam e pretendem explicar o porquê do intuito criminoso –
debalde: o objetivo tem que ser díspar, nebuloso, escorregadio, para não perder
o vínculo com o real.
Ao cabo, o leitor despenca os olhos sobre as páginas finais,
pensando que elucubrações ou mostras de conhecimento, por parte da Autora, tornam-se
plenamente dispensáveis e investe ao objetivo: descobrir qual a solução e
imaginar morte ou a prisão, condenação e o tormento do facínora na direção do
ergástulo perpétuo, ou ao menos os almejados 30 anos.
Engana-se.
Ada Pellegrini Grinover: Presidente do CEBEPEJ, Professora Titular de Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutora “Honoris causa” pela Universidade de Milão. Recebeu o Prêmio Redenti da Universidade de Bolonha. É Acadêmica da Academia Paulista de Letras (Cadeira 9. Patrono: Álvares de Azevedo). Publicou vários livros literários, entre eles: A menina e a guerra (romance), Foemina (contos), A garota de São Paulo (memórias).
Parece-me uma leitura bastante curiosa. Onde adquirir?
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