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Abecedário - contos - Caetano Lagrasta Ilustração: João Baptista da Costa Aguiar |
“— O que pretende fazer? —
perguntei.
— Tentarei ver se a terra tem algo a me ensinar. — respondeu.
— Não precisa. Você carrega seus mortos, seus dias
e suas noites, seus amores e traições; isto o perturba, pois a tudo aprendeu.
Não lhe adiantou morrer.”
(H: amers, marcas marinhas)
Encontrei Abecedário nos arquivos de Caetano Lagrasta. Antes, não passava de
honraria pendurada no escritório em que eu lia “Prêmio Governador de Estado,
1967”. Abri a caixa, folha por folha... e li. Coleciono raridades, e encontrei mais
esta; páginas que encapsularam o Tempo.
No Abecedário nada é por acaso; o autor não poupa leitores e personagens
da angústia ou da humilhação.
A mesquinha realidade diária como
cenário, homens e mulheres esmagados pela falta de perspectiva... Cidade, máquinas, repartições públicas, a vida
familiar, tudo pesa sobre eles, com o incômodo da alma que se agiganta e ainda
assim deve permanecer em roupas e sapatos herdados dos irmãos mais velhos.
Em cada conto, a sensação de fim
de domingo, quando a tardinha cai e o juiz apita o fim da partida: a engrenagem
recomeça a triturar os homens. A custo, chegaremos novamente à sexta-feira –
... a noite passa tão depressa, mas vou voltar lá pra semana.
Escrito nos anos 60, aos 23 anos
de idade, cinquenta anos depois o livro nos deixa a certeza de que décadas e
décadas não consolam dores humanas.
No Abecedário, amanhã é sempre
segunda-feira.
Adriana Aneli
L A N Ç A M E N T O
Editora Scenarium
27 | 08 | 16, 16h
Biblioteca Mário de Andrade
Rua da Consolação, 94 - Consolação
Centro, SP
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