O que faz a cabeça do lidador do Direito funcionar?
Seria só a injustiça? Pensada
ou imaginada... e só.
Sem esquecer o que
Tales Castelo Branco sempre enfatiza: tem ainda que ser com “arte e ofício”, o
verdadeiro exercício da Advocacia. E neste liceu de artes e ofícios vai ele a
lembrar além das angústias e percalços o de colocar-se cada um em seu lugar
(até mesmo na mesa de audiências) e nunca deixar esmorecer a educação e o
tratamento que a todos é devido.
Lógico que, no diário,
especialmente desde os idos e lidas em alguma das ditaduras que infestaram e
infestam o país, colocou os abusados e abusos judiciais e militares em seus
devidos lugares.
Quando, depois de mais,
ou menos, 50 anos a serviço da Justiça, encontramos um tanto de minha memória no
livro do Tales Castelo Branco; juro, tenho vontade de recomeçar. E parece que
meu filho ouviu tal perjúrio e assim como ele, eu também não consegui parar e
fui obrigado, gostosamente, a voltar a aprender, neste início, de Advocacia a
obedecer. Mas, onde estava mesmo? Ah, nos tales
of Tales.
Lindeza, desde o
começo, pegar e manusear, cheirar e dedilhar obra e papel nem de vulto, nem de
peso, obra singela na paginação jornalística da Migalhas. O primeiro sentir é da memorabilia, sem estranhamentos, desde os ouvidos desassinados (lastimavelmente traduzidos pela tradição como
orelhas – orelhas que nada ouvem, mas
que, por impressionadas, contam) e a perpassar por introduções de dois amigos consumados:
o Antônio Cláudio e o José Carlos Dias, o elogio sem jaça e sem pedido de
licença, verdadeiras escavações de jazida, a desenterrar essa preciosa vida de
jurista.
E, para primeiro susto,
a origem cearense, de onde emerge das angústias e arrepios do Sertão, quando
nada, Rachel de Queiroz e seu “O Quinze” - ops, e já estou eu a perder-me de novo
– por entre sóis inclementes e gado morto, além de algumas crianças, óbvio – a gente
nordestina esmigalhada e humilhada que, nem por isso, acaba por dar vulto às injustiças
e a fazer honra à torrente de memória na dignidade do jurista.
Se nos fosse dar
tamanho e compostura, faríamos a análise ponto a ponto, capítulo a capítulo,
como pretendiam cronistas ou críticos, bem velhinhos, por demais formalistas e parnasianos,
mas a tanto não irá me ajudar engenho e arte, poupando os leitores destes
garranchos de uma viagem monótona e sem lustro.
Nesta alegria passarinheira
de encontro com o jurista e amigo, sem trocas de confetes ou serpentinas, meu
espírito de burguês paulistano, não há que não mencionar Mário, o de Andrade,
eis que desde há muito Tales aqui pontifica e pontificou, para lembrar que a
vida do Advogado dedicado à face Penal da atividade humana, em momento algum se
escapa de ser Poeta ou homem da Literatura.
Nada a assustar, pois
que a lide criminal está envolta nos maiores mistérios da injustiça, da Arte e ...
– não se assustem – do sentimento e da dor. Assim, cito o Poeta, pois ridículo
seria estar a citar o próprio Autor e a encher estas páginas de verdades já
escritas:
O
defeito da arte é mesmo transportar os maiores horrores da humanidade e da
Terra pra um plano hedonístico, tão contemplativo e necessariamente diletante,
que a gente está chorando na leitura e não sofre nada.
Dizer de suas lutas,
tristezas, vitórias ou desencantos seria repicar nos críticos ou resenhistas de
feira ou feriado. O que se pretende e incentiva é a leitura desse resumo de uma
vida de Advogado, sempre dedicado ao combate das injustiças e dos julgamentos
arrevesados que só a vesguice das ditaduras e dos maus juízes ou dos golpistas
de plantão permitem, impor sofrimento maior a um povo de há muito desvalido.
O maior mérito dos tales do Tales reside na capacidade de
indignação, maior dos apanágios de qualquer dos lidadores do Direito, mas que é
a marca a ferro e fogo do Advogado criminalista, ainda especialmente nestes
dias que correm.
Meu melhor abraço a você,
Tales Castelo Branco, homem de ao menos dois séculos.
Caetano Lagrasta Neto
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