Neuza
Ladeira nascida em
Belo Horizonte, artista plástica, aquarelista apurada, poeta. Casada, mãe de
duas filhas. Amante das artes e das montanhas. Autora de Opúsculos e Poética
Caderno 1. Autodidata, estuda Foucaut e Schopenhaeur. Integra como Fundadora o
Movimento Poesia na Praça,na Pampulha, em Belo Horizonte, MG,Brasil. Ilustra vários
livros de poesia para o selo Anomelivros e outros também seus. Realizou várias
exposições inidviduais de telas correlacionadas à sua Poesia. Ainda muito jovem, Neuza lutou pelas liberdades democráticas. Foi prisioneira
política de 1970 à 1972 em quatro estados brasileiros, na época da Ditadura
militar. Sua experiência de vida reflete-se sobremaneira em seus versos
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Sou eu uma bomba
Lapidada
Em um aparelho
De cabeça para baixo
Mãos e pés amarrados
Em um aparelho
De cabeça para baixo
Mãos e pés amarrados
Sou eu uma bomba
Aniquilada pelo inimigo
Que insiste
Em matar o que não morre
Sou eu uma bomba
Solta na vida
Tendo que sobreviver
Num mundo hostil
Sou eu uma bomba
Explodindo na palavra
Uma pólvora fugaz
NL
Aniquilada pelo inimigo
Que insiste
Em matar o que não morre
Sou eu uma bomba
Solta na vida
Tendo que sobreviver
Num mundo hostil
Sou eu uma bomba
Explodindo na palavra
Uma pólvora fugaz
NL
BAP1: Quando surgiu a arte em sua vida?
Neuza Ladeira: Desde que nasci fui rodeada de arte. Fui para o Rio de Janeiro e
tomei um chá de modernidade. Nasci com os olhos embaçados, quatro graus de
miopia, os detalhes inexistiam para mim. As personas eram imagens surreais. Então
imaginava; montava a cena e ali estava a pintura. Eram quadros singulares, como
uma fotografia guardada. Até hoje me lembro de não enxergar o A, E, I, O, U.
Dirce, a professora, observou a deficiência e foi à casa de meus pais dizendo:
“Levem esta menina ao oculista”. Minha vida mudou aos dez anos quando usei o
meu primeiro óculos, vi tudo geométrico. Espaço e forma me laçaram. Nessa época
desenhei muito. Depois me encantei com a poesia, decorava poemas. Um deles, em
francês, eu declamava no colégio. Arrumei um diário e escrevia minhas
intenções. Fui criada com pessoas inteligentes, modernas leitoras. Tinha um
mundo só meu onde aprendi o que uma mulher devia saber. Mas fiquei tímida
diante dos meus dons por longos anos.
BAP2: O
início: literatura ou artes plásticas? De qual maneira uma arte alimenta a
outra na sua engrenagem?
NL: Sempre fui fascinada pela literatura. Sempre amei as palavras, a
sua integração, a dedução, o instante da inspiração. A pintura surgiu na
infância, mas ficou adormecida. A poesia veio primeiro e eu nunca desisti. Uma
intuiu a outra.
BAP3:
Fale de seu primeiro livro ´Opúsculos´, de como ele surgiu e de sua temática.
NL: “Opúsculos ” é um livro de poemas com versos livres. Minha
linguagem dos opúsculos cumpre sua real função. Une epifania e condução mágica
das palavras. Este livro foi a expressão que dei às minhas impressões,
trilhando pensamento seguido das premissas do verso. Foi o melhor lançamento de
livro já visto com umas quatrocentas pessoas. Paguei o livro no lançamento e
ficou lindo! Todos os poetas declamaram. Tivemos música, acordeon, dança. Foi
um mágico sarau.
BAP4: Você sofreu as consequência da Ditadura no
Brasil. Foi presa e torturada. Fique à vontade para contar como tudo começou.
NL: Por uma ideologia na qual acreditava, vi a coisa mais feia do mundo
que é homem ferindo homem. Na prisão, seres violentos massacravam, matavam todos
que sequestravam. Fui torturada pelo violento Delegado Fleury. Ele me bateu e
me pressionou tanto que implodi.
BAP5:
Arte e resistência podem chegar a ser sinônimos?
NL: Para mim, a arte é a mais notória resistência. Homem mais comum,
integrado ao comum, ao vagabundo. Ela está aí resistindo ao tempo em sua
atualidade. Sim, arte e resistência são sinônimos.
BAP6:
A prisão e a tortura podem se constituir numa forma de arte que não seja
engajada?
NL: Arte em toda a sua dimensão pode e deve estar engajada. Tortura é
crime. Temos que denunciar.
BAP7:
Qual o olhar da Neuza de hoje sobre a poesia social e revolucionária do século
XX?
NL: Vivi em uma época na qual a arte denunciava através de músicas,
poesias, pintura etc. Chico Buarque e tantos outros, com sua arte consciente e
poética revolucionaram. Era uma época de boca calada e o murmúrio era a poesia.
Canções como “Caminhando e Cantado”
de Vandré estavam inseridas naquele contexto. O teatro participativo, com peças
como “Liberdade, liberdade”, “Morte e
vida Severina” e tantas outras cumpriam seu papel no país e pelo mundo.
Músicos implodiam com suas músicas carregadas de poesia e denúncia. A poesia do
século XX foi muito participativa.
BAP8: Você é apreciadora da natureza, artista
plástica, poeta e leitora. Fale de suas leituras preferidas, como por exemplo,
a filosofia.
NL: A seguir, listo alguns livros que li
e gostei. Há muitos outros, mas destaco esses. Pequeno Tratado das Grandes Virtudes \ André Comte-Sponville
Schopenhauer \ Decifrando o enigma do mundo \ Marie-José Pernin Nietzsche \
Vontade de Potência \ O Poder do Mito \ Joseph Campbell Cem anos de solidão\
Gabriel García Márques A companhia dos Filósofos \ Roger-Pol Droit Antologia de
Fernando Pessoa.
__ entrevista realizada por
Chris Herrmann e Adriana Aneli
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