No ano que entrei na faculdade havia um rapaz, já veterano de provas e aulas, que tinha entre as suas atribuições aquela que eu achava a mais bonita de todas; quando ele te conhecia e te achava angustiado, cortava pequenos cadernos nas folhas de almaço e enchia-lhes de poesia.
Chamavam “itinerários para corações cansados”.
Aos meus olhos juvenis, ele era um doutor, não das leis, como todos ali pretendiam ser, mas das almas e dos corpos.
Porém, os anos eram de chumbo, e o rapaz desapareceu por suas ideias. Hoje, tantos anos depois, volto à faculdade e vejo seu nome homenageado pelos corredores. Meu coração, já velho e tão cansado por perder as mesmas batalhas, olha o seu nome talhado no bronze e só pensa em lhe dizer uma única coisa: haveria ainda um pouco de poesia para mim?
Rodney da Silva Amador,
Outubro de 2018
Mas poderia ser outubro de 1968 ou ainda outubro de 1938